Reportagem Especial | Artigo Nº65: apertem os cintos (de segurança) – Parte II

 Na Parte II, abordamos sobre a segurança do cinto, inclusive no banco traseiro, e os fatores psicológicos que levam motoristas e passageiros a não utilizar o cinto



    Depois de falarmos sobre o cinto de segurança, desde a sua criação e evolução ao longo do século passado e a sua chegada no Brasil (que você confere na Parte I desta reportagem, com link mais abaixo) e as tentativas de tentar atrapalhar sua obrigatoriedade, nesta segunda parte aprofundamos ainda mais a discussão sobre seu uso. Com os nossos entrevistados, focamos em pontos como os níveis de segurança que o cinto de segurança traz e os riscos que sua não utilização trazem aos ocupantes dos veículos – e você vai saber qual o pior tipo de acidente para ocupantes que não utilizam o cinto de segurança.

    Aliás, um outro bom questionamento que fazemos é: você usa o cinto de segurança no banco traseiro? Se a resposta for não, saiba os riscos que você corre e porque muitos ainda pensam que seu uso não é necessário justamente por estarem na segunda ou terceira fila de bancos dos veículos. Se você usa o cinto mesmo estando nestas fileiras, você já se perguntou por que muitas pessoas pensam dessa forma? Tentamos descobrir quais são os fatores psicológicos que muitas pessoas ainda insistem em ter sobre a sua própria segurança.


SUMÁRIO

  • O cinto de segurança no Brasil
  • Brasil, apertem os cintos. Dados e perfis, aí vamos nós
  • Níveis de segurança do cinto de segurança e os riscos de não utilizar
  • No banco traseiro, o uso é tão necessário como na frente
  • Os fatores psicológicos
  • Legislação e formação de condutores
  • Manutenção e cuidados com o cinto, um ponto importante
  • A tecnologia em favor da segurança
  • Apertem os cintos (de segurança)



Níveis de segurança do cinto de segurança e os riscos de não utilizar


    A lei não existe previamente sem uma evidência ou um motivo que preze pela segurança ou ordem. No caso do trânsito, o cinto de segurança é um dos equipamentos que 'sofreu' para finalmente conseguir se tornar obrigatório, algo que é lei desde 1998, com o lançamento do Código de Trânsito Brasileiro. Apesar de um certo inconformismo com as regras, como visto no subtópico anterior, parte dos condutores parecem não se dar conta da importância que o equipamento traz em caso de acidentes. 
    Em 2013 e em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – Acesso e Utilização dos Serviços de Saúde, Acidentes e Violências: Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. Em 2013, 79,4% dos ocupantes confirmaram usar o cinto de segurança enquanto motorista ou passageiro dianteiro. No banco traseiro, o percentual era bem inferior: 50,2% confirmavam utilizar o item. 
    Em 2019, a pesquisa não trouxe muitas evoluções neste cenário. Passou para 79,7% dos ocupantes que diziam usar o cinto nos bancos dianteiros e 54,6% usavam o cinto no banco traseiro. Apesar dos números maiores, eles trouxeram poucos ganhos em termos de conscientização. Isso significa que, em um espaço de seis anos, houve um crescimento de 0,3% de condutores ou passageiros do banco dianteiro que utilizaram o equipamento, e um aumento um pouco melhor nos ocupantes do banco traseiro com cinto: aumento de 4,4% em comparação com a última amostra. E vale destacar que a autuação pela falta do cinto de segurança é a mesma, sem importar se o infrator é o condutor ou passageiros.

Foto: Conexão Automotiva

    Sabendo de sua importância, o cinto de segurança, de acordo com algumas pesquisas, pode reduzir consideravelmente os danos aos ocupantes. Esse também foi um importante foco de questionamento aos nossos entrevistados. E essas foram algumas das respostas obtidas.

    “O cinto de segurança é fundamental para reduzir a gravidade de um sinistro de trânsito, então o cinto de segurança ele evita a projeção desse passageiro para que evite o contato do corpo dele com painel, com volante, que pode causar lesões. Nos ocupantes do banco traseiro evitar também essa projeção e bater nos ocupantes dianteiro ou até ser projetado para fora do carro, o que aumenta a gravidade das lesões. A própria Senatran possui estudo sobre este tema. Entre eles, um que mostra que os sinistros de trânsito que ocorreram, se tivessem com o cinto de segurança, quem não estava, poderia reduzir até 60 a 70% o número de óbito nestes sinistros.”, disse Vitor Fernandes, coordenador de policiamento e fiscalização da PRF.

    “Sem o cinto, os ocupantes do veículo podem ser projetados contra o painel, para-brisa ou até ejetados do carro, resultando em ferimentos múltiplos e complexos, como traumatismos cranioencefálicos graves, fraturas expostas e lacerações extensas. Isso exige um atendimento mais demorado e especializado no local do acidente, dificultando a estabilização das vítimas para transporte seguro ao hospital. Além disso, vítimas sem cinto frequentemente chegam em estado crítico às emergências hospitalares, demandando recursos intensivos, equipes multidisciplinares e leitos de UTI, o que sobrecarrega o sistema de saúde. O uso do cinto reduz a severidade das lesões, facilitando o atendimento inicial e melhorando as chances de recuperação com menos sequelas.”, destaca Álysson Coimbra, médico de tráfego.

    “Estima-se que houve redução de 100% das fraturas do quadril, 60% das fraturas da coluna vertebral, 56% das fraturas de cabeça, 45% das fraturas do tórax e 40% dos traumas no abdômen após o uso do equipamento de forma universal. [...] É bem fácil identificar os sinistros que tem na história o correto uso do cinto se comparado daqueles que não os tem, a gravidade das lesões são marcas evidentes. O cinto de segurança é um equipamento de segurança passivo que minimiza as consequências do sinistro de trânsito e o impacto que o corpo é submetido.”, acrescenta Áquilla Couto, Diretor de Comunicação da Abramet.

    As três falas complementares ressaltam a importância direta do uso do cinto de segurança na saúde e na integridade dos ocupantes do veículo, em caso de acidentes. Ao não ser usado, os condutores ainda podem sofrer consequências, dependendo da situação. Nós perguntamos para a Abramet qual seria o acidente de maior risco para ocupantes que não utilizam o cinto de segurança, apesar de saber que todos possuem eventual risco à integridade. De acordo com Aquilla Couto, o maior risco é o capotamento do veículo. Por conta da velocidade e do veículo girar várias vezes, o não uso do cinto faz com que os ocupantes se choquem com diferentes partes internas do veículo, além de ficarem soltos e com possibilidade de serem ejetados. Se isso acontecer, existem outras complicações ainda maiores, como atropelamentos causados pelo próprio veículo acidentado ainda em movimento ou por veículos terceiros na via. No entanto, todos os tipos de sinistros possuem potencial de ferir gravemente os ocupantes se eles não estiverem com cinto afivelado.
    No Brasil, a frota de veículos é muito ampla. Atualmente, existem cerca de 38,4 milhões de automóveis no país, sendo que a idade média da frota nacional vem aumentando. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores, o Sindipeças, a média dos automóveis é de 11,1 anos, enquanto veículos com mais de 16 anos representam 7,3 milhões de unidades e com mais de 25 anos outros 220.000. O fenômeno estaria ligado com o aumento nos preços dos veículos, que dificulta muitas vezes a troca por um mais moderno, e de uma taxa de juros elevada para financiamento ou consórcio. 

Foto: Volkswagen / divulgação

    Sem dinheiro para a aquisição de um zero-quilômetro, a busca tende a ser por seminovos ou usados. Esse grande espectro de veículos com diferentes anos de fabricação também traz uma grande variação de itens de segurança nestes veículos. E quando falamos de cinto de segurança, ao menos, vemos que a grande maioria conta com cinto de três pontos para, pelo menos, quatro ocupantes. Isso porque, em veículos de cinco lugares, o assento do meio no banco traseiro não contava com apoio de cabeça e cinto de três pontos até pouco tempo, quando se tornou regra em 29 de janeiro de 2020. Também vale destacar que os veículos mais antigos poderiam ter cintos de segurança de dois pontos, que segura somente o quadril e não segura o tórax dos ocupantes, ou seja, é mais inseguro em caso de acidentes.
    Em veículos mais esportivos ou de competição, existem outros tipos de cintos de segurança. É possível encontrar veículos com cintos de quatro ou seis pontos. No caso do cinto de segurança de quatro pontos, existem dois tipos: em ‘X’ ou em ‘Y’. Em ambos os casos, ele prende os dois ombros e é fixado em quatro pontos estruturais do assento. No caso de veículos de competições, o cinto de segurança de seis pontos é obrigatório pela Federação Internacional de Automobilismo, a FIA. Ele conta com pontos de fixação para os dois ombros, dois pontos no quadril e outros dois pontos para as coxas. Por conta de ter mais pontos, cada alça pode ser solta por meio de uma fivela de liberação rápida e são proibidos em vias públicas.


No banco traseiro, o uso é tão necessário como na frente


    No tópico anterior, trouxemos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o percentual de uso do cinto de segurança no banco dianteiro e no banco traseiro. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – Acesso e Utilização dos Serviços de Saúde, Acidentes e Violências: Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação, revelou que pouco mais da metade dos ocupantes do banco traseiro utilizam o equipamento durante a condução. Em 2013, o percentual era de 50,2% e em 2019 passou a 54,6% dos passageiros. Um número ainda baixo de adesão, especialmente quando dentro deste espectro existem 45,4% dos ocupantes do banco traseiro que não usam o cinto. Isso se você ainda excluir aqueles que falam que utilizam, mas, na prática, não é bem assim. O crescimento dos aplicativos de mobilidade em todo o país poderia ser usado como exemplo deste movimento.
    Se existem desculpas que são usadas por motoristas e passageiros do banco dianteiro para não utilizar o cinto de segurança, no banco traseiro seria evidente que também existiria alguma forma de justificar o não uso. De acordo com pesquisas, os ocupantes do banco traseiro não estão mais seguros que os ocupantes do banco dianteiro. É como destaca Vitor Fernandes, coordenador de policiamento e fiscalização da PRF, que diz que, no banco traseiro, o uso do cinto evita a projeção contra os ocupantes dos bancos dianteiro ou até mesmo evita de ser projetado para fora do carro, o que aumentaria a gravidade das lesões. Fernandes adiciona que o não uso do cinto de segurança no banco traseiro gera a mesma multa e os mesmos pontos na carteira para o motorista, uma vez que ele é o responsável pela condução do veículo.

Foto: GAC / divulgação

    E você lembra quando citamos sobre os riscos, no tópico acima? No banco traseiro eles também existem. No banco traseiro, em caso de colisão, os ocupantes sofrem a mesma ação da cinética, da física, que os ocupantes do banco dianteiro, com a diferença que o corpo destes ocupantes dos bancos traseiros se “movimenta para cima, contra o teto, e para a frente, contra a parte posterior do encosto do banco dianteiro.”, como destaca um artigo da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, a Abramet. Áquilla Couto, Diretor de Comunicação da Abramet, ainda acrescenta “que a falta de cinto de segurança dos passageiros do banco de trás aumentam em até 5x lesões nos passageiros do banco imediatamente à frente.”, disse em entrevista.
    Outro estudo, um artigo da norueguesa Alena Høye, intitulado “Como o aumento do uso do cinto de segurança afetaria o número de ocupantes de veículos leves mortos ou gravemente feridos?”, de 2016, confirma que o uso do cinto de segurança no banco dianteiro reduz o risco de ferimentos fatais e não fatais em 60%. No banco traseiro, seu uso reduz em 44% esse risco, ou seja, já é um grande apoio na segurança dos ocupantes. O não uso deste equipamento poderia estar ligado também ao condutor que não é habilitado. Esse não uso no banco traseiro poderia estar relacionado com a falta de ensino sobre trânsito e legislação, que não é ensinado para as crianças/adolescentes, seja pelos familiares, com as escolas ou pela falta de políticas públicas que incentivem esse ensino. Sabendo que o trânsito não é uma responsabilidade apenas de quem vai passar pelo processo exigido para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), é preciso promover uma mudança comportamental da educação desde as crianças, que poderia acontecer via parcerias com escolas, por exemplo.
    É a falta dessas políticas públicas que Eduardo Cadore acredita que seja essencial para mudar esse panorama. 

    “Essa criança e adolescente, que nunca teve contato com um processo educativo de trânsito, só vai ter isso no momento que ela se interessou a se habilitar. E aí acaba sendo pouco, porque é um processo muito rápido para fazer a mudança de tantos anos que ela ficou na ignorância, ali sem conhecimento de discutir sobre isso. Então a gente precisa calcular novas rotas a nível de políticas públicas, porque realmente a gente vai precisar atingir todas as pessoas e hoje não conseguem fazer isso.”, adiciona Cadore em entrevista. 

    Fábio de Cristo também acredita que esse movimento educacional pode criar o que ele chama de uma “cultura de segurança”, em que Fábio analisa ser um processo que vai levar tempo e que precisa ser mantido.

    “Eu diria que é importante a gente buscar construir a cultura de segurança, porque aí a cultura de segurança e a ideia de Sistema Seguro [referindo-se ao Sistema Seguro e Visão Zero, plano do Ministério dos Transportes para transformar o trânsito mais seguro] pode ser um caminho para isso, porque aí a cultura de segurança, o país e as pessoas adotando isso, essa cultura ela irradia para esses diferentes níveis/fases do desenvolvimento, seja para criança, na educação das crianças, seja para os adultos identificarem o que que é esperado, qual que é o padrão do comportamento daquele país e então, a partir daí, eu diria a adoção de uma cultura. E essa adoção de cultura leva tempo, ela precisa ser iniciada, reforçada e mantida. Então existe todo um conjunto de atores e ações que vão promover essa cultura de segurança e aí as políticas públicas que inclui a educação, fiscalização, infraestrutura, os parceiros que fazem parte do sistema de transporte público, empresas de transporte de carga, então todo mundo precisaria aderir a isso.”, disse em entrevista.

    Em adultos, sejam eles habilitados ou não, existem outros fatores que são os fatores de crenças e, principalmente, psicológicos que interferem em uma falta de segurança para os ocupantes quando estes não utilizam o cinto de segurança. Alguns destes fatores estariam relacionados justamente com a maior (falsa) sensação de segurança dos ocupantes do banco traseiro em relação aos ocupantes do banco dianteiro. Mas por que isso acontece? Segundo os psicólogos de trânsito Eduardo Cadore e Fábio de Cristo, esses hábitos, ligados com a percepção de segurança, excesso de confiança e sensação de controle, serão destacados no próximo subtópico.


Os fatores psicológicos


    A condução de um veículo exige medidas de segurança do seu condutor e também dos seus passageiros que nele estão, por mais que estes não tenham uma habilitação. E quando falamos sobre o uso do cinto de segurança, tanto o seu uso como a sua não utilização estão interligados em uma série de fatores com base no que os psicólogos entrevistados chamam de “cultura de crenças e hábitos”. Em ambos os casos, existe o que pode ser chamado de mimese, ou, até mesmo, uma conveniência, podendo chegar a uma espécie de intimidação. Algo como “se o condutor não usar, os passageiros também não precisam utilizar” ou “para que você vai usar, se eu não uso?”, como se esta não utilização colocasse em cheque a competência do motorista em ser um bom condutor, como se isso fosse suficiente para não haver um acidente, até porque ele pode ser causado por um outro veículo.

Foto: Banco de Imagens Pixabay / reprodução

    Neste tópico, pretendemos destacar o que foi dito por nossos entrevistados e psicólogos de trânsito, Eduardo Cadore e Fábio de Cristo. Para este tópico, sugerimos uma conversa entre os dois, com algumas intervenções para complementar ou explicar o que é dito por ambos os entrevistados. Começamos perguntando a cada um o que explicaria o descrédito em relação à própria segurança, quando os condutores falam que ‘não vai dar em nada’ ou quando existe uma implicância com quem utiliza prudentemente o cinto de segurança já de forma natural. Junto a essa pergunta, adicionamos se essa questão estaria relacionada com a percepção de risco durante a condução de veículos. A esse respeito, Eduardo concordou que esses tópicos estariam sim relacionados, e acrescentou:

    “É muito curioso isso porque é muito comum como mecanismo de defesa psicológico a gente utilizar essa ideia de que ‘todo mundo faz’ ou que ‘eu vou estimular aqui das pessoas do meu convívio a ter o mesmo comportamento meu, porque assim eu não vou precisar modificar o meu comportamento’. Então quando uma pessoa vai colocar o cinto de segurança, o passageiro, e o próprio motorista disse que não precisa ou que não é necessário ou faz até chacota disso, ele na verdade está ali buscando um meio em que se tenha essa convivência e conveniência no sentido de ‘ah então se você não usa também não vou usar’ ou ‘estamos juntos aqui e ninguém usando’, então fica um ‘eu não falo de você e você não cobra que eu não uso’ e fica assim. Então tem esse fator da desnecessidade de pensar que não vai acontecer nunca comigo, nunca vou perder o controle do veículo ninguém vai colidir comigo nem nada e automaticamente fazer com que as pessoas do nosso entorno também adotem estes comportamentos. Nós somos uma espécie muito gregária, a gente tá sempre buscando identificação, mesmo que bate no peito dizendo que ‘não, eu sou autônomo, eu sou uma pessoa independente’. Nós estamos sempre sofrendo influências e buscando influências”, destaca Eduardo Cadore.

    Já para Fábio de Cristo, existe o que ele chama de “mecanismos psicológicos”, que embasam as atitudes destes motoristas e passageiros que não utilizam o cinto de segurança. 

    “Dentre esses mecanismos, o sistema de crenças, ou seja, são formulações de como a pessoa percebe o mundo a sua volta, é como as coisas tipicamente acontecem. Então muitas vezes as pessoas têm o sistema de crença e que ‘nada vai acontecer’, ‘que não tem problema’, ‘que meu carro é seguro’, ‘ele tem outros mecanismos de proteção’, etc. Então essas crenças geram pensamentos que, muitas vezes, não são favoráveis à adoção de comportamentos seguros. Consequentemente, se a pessoa acredita que isso não é um problema, então não há razão para ela usar o cinto de segurança. O sistema de crenças, por exemplo, que acontece atualmente muito no banco de trás, no sentido de que ‘atrás eu não vou ter problema’, ‘não é necessário’, e inclusive ‘os guardas não multam’. Existe a crença de que o ‘banco da frente, se qualquer coisa acontecer, ele me segura’, mas isso quando a gente vai discutir a fundo essas crenças, elas não se sustentam. Porque a depender da velocidade, que supostamente ele seguraria, ele pode causar dano e até levar a morte a pessoa que está na frente. Então eu diria que uma possibilidade seriam esses sistemas de crença, que são crenças equivocadas, crenças errôneas e que precisaria a gente combater. [...] Outra forma da gente explicar diz respeito ao que a gente chama em psicologia de desengajamento moral, ou seja, o moral do que é o certo e o errado naqueles determinados padrões estruturais. E o desengajamento é você não estar engajado em determinados comportamentos que são corretos. Então você desengaja, você se desvincula daquilo que é esperado de acontecer, do adequado. Então esse engajamento moral basicamente é o seguinte. São justificativas que nós mesmos criamos em determinada situação, que nós sabemos que é errado, mas mesmo assim nós fazemos aquilo que é errado, mas a gente também tem um benefício. Um benefício circunstancial, então o desengajamento moral é essa autojustificativa que eu construí para mim mesmo para fazer aquilo que eu sei que é errado. Por exemplo, quando você vê a vaga reservada/prioritária, para idoso para ou cadeirante, e aí essa vaga é bem estratégica porque fica na entrada do supermercado. E aí você fala: ‘cara, essa vaga aqui tá sem ninguém’. Eu vou estacionar aqui por cinco minutinhos, eu vou lá rapidinho, eu vou e pego e não vai dar problema nenhum. Essa justificativa é um desengajamento moral. Ou seja, eu sei o que é errado e eu vou fazê-lo porque com uma determinada justificativa me autorizou. Essa justificativa alivia o meu sentimento de culpa, subjetivo né. [...] Então eu diminuo a culpa subjetiva, mas o dano objetivo pode acontecer. Então é o que em psicologia a gente chama de desengajamento moral, são justificativas que você dá para si, para lhe permitir ou aliviar sua consciência de culpa para fazer uma coisa errada”, explica Fábio.

    Perguntamos também o que poderia explicar essa falsa sensação de segurança dos ocupantes do banco traseiro. Eduardo afirma que esse comportamento estaria relacionado a pessoas que não tiveram contato com a formação de condutores ou que nunca foram ensinadas sobre a importância do uso do cinto de segurança enquanto mais jovens. 

    “Psicologicamente falando, as pessoas que estão conduzindo veículos, elas se sentem mais sob controle da situação do que aquela que não está conduzindo evidentemente. Então há uma tendência maior do passageiro não ver necessidade do uso e aí que, um pouco por isso, é que o nosso código de trânsito ele coloca na responsabilidade para o condutor o uso do cinto de segurança pelos ocupantes do veículo, inclusive a ponto de penalizar o condutor por não usar o cinto. O passageiro não é penalizado, ele não sofre nenhuma consequência legal, mas o condutor sim. [...] Em alguns países do mundo, nós temos regras assim que o passageiro por não cumprir a regra, ele tem alguma penalização. No Brasil a gente não adota essa lógica e o passageiro nunca é responsabilizado pela conduta dele e acaba então ficando mais livre para não cumprir a lei. E aí cabe ao condutor fazer o papel dele”, diz Cadore. 

    Nesse mesmo questionamento, Fábio de Cristo adiciona a existência de um outro sistema. Além do sistema de crenças citado por ele, ele acredita na existência de um sistema explicado como automatismo. 

    “As explicações podem estar por base também nesse sistema de crenças e os automatismos. Muito provavelmente, quando a pessoa justifica, o automatismo não está instalado na pessoa, então isso é um ponto. A pessoa não tem o hábito de usar o cinto atrás. Porque se ela tivesse, não estava no nível do ‘se eu vou’ ou ‘se eu não vou usar’. Tá no nível de ‘cadê o cinto aqui atrás?’ E aí o passageiro cobrar. [...] Porque ele tem um hábito de usar o cinto. Especialmente se ele possui o hábito de usar o cinto na frente, enquanto condutor. Então ele tende a levar para trás também. Quem tem esse tipo de comportamento, geralmente são pessoas que não estão habituadas e portanto criam justificativas ou então tem esse sistema de crença. É um outro ponto aqui, que eu acho que é importante, nós estamos falando então de ocupante de veículos, existe uma terceira via além desse sistema de crenças e hábitos, que os estudos relacionam ao que diz respeito à influência social, ou seja, você estando sozinho, você tem um comportamento, e se você está com outras pessoas dentro do carro, seu comportamento pode mudar. Então essa influência social é importante porque ela pode servir tanto para o bem quanto para o mal. Então imagina o seguinte. Você tem uma pessoa que não usa cinto, não tem por hábito usar o cinto, mas você tem duas pessoas no carro que usam cinto e que acham que usar o cinto é importante. Então a pessoa que tá lá atrás, ela não vai botar o cinto e vai ficar por ali. Então o motorista e o outro passageiro podem perguntar e aí, cadê se cinto? Não, ponha o cinto, eu só vou sair com o cinto. E aí por N razões, se eu levar uma multa, é você que vai pagar isso ou então eu só ando assim no meu carro, mas a influência social, ou seja, essa pressão das pessoas, e eu estou citando uma pressão que é boa, favorável, em prol da segurança. Mas pode haver pressões sociais que não são para a segurança. Então quando as pessoas veem que tá de cinto falam ‘ih rapaz, daqui para ali não tem problema’, ‘não a gente aqui tá no interior’, ‘não tem fiscalização’, ‘a gente tá aqui que não é perigoso’, e aí a pessoa pode ficar inibida e ainda que ela tenha o hábito de utilizar, frente aquelas pressões sociais, ela vai ter que ter uma convicção muito grande. ‘Não siga o teu rumo aí, que eu vou usar meu cinto e cada um vai do seu jeito’, por exemplo. Então a pressão social ela pode ser muito boa quando era em prol da segurança, mas ela pode ser muito danosa quando ela impede que a outra pessoa tenha um comportamento seguro. E aí, por questões de conformidade, a pessoa que queria ter um comportamento seguro não adota naquele momento. Então a dinâmica da presença de outras pessoas no veículo, elas alteram a dinâmica circunstancialmente. Às vezes a pessoa tem a vontade de ter um comportamento seguro, mas ela pode ceder às pressões sociais.”, disse de Cristo. 

    Também perguntamos aos dois se o uso do cinto de segurança é um hábito que é criado por cada indivíduo, se seu uso está correlacionado a uma conscientização ou por que também é uma exigência, seja ela uma exigência da lei ou até mesmo de recursos de tecnologia como o aviso sonoro de desfivelamento dos cintos. Nesses itens citados, acrescentamos à pergunta se o não uso é cultural. 

    “Eu diria que, no aspecto especialmente do cinto, ele é mais cultural e social do que necessariamente psicológico. É claro que fator individual pega isso né, mas eu conheço pessoas, por exemplo, que são excelentes motoristas não ultrapassam em lugares indevidos, mas não usam o cinto na cidade. E aí a gente pensa assim: como uma pessoa tão bem esclarecida que toma os cuidados e que efetivamente conduz muito bem, de forma defensiva, quando se trata ali do aspecto do cinto ela não usa. Daí a única resposta que encontra realmente é um aspecto cultural. [...] Em regiões como no interior, o problema ainda é o uso do próprio condutor. Então tem um fator cultural sim muito grande para ação e de sensibilização de mostrar porque que o cinto segurança ele vai proteger a pessoa ali para ela não ser projetada, para ela não ser esmagada, para não sofrer com traumatismo craniano, para pelo menos reduzir essas chances aí. [...] Então é realmente um aspecto cultural, vem o histórico de que desde 1968 no Brasil os veículos saem com cinto de segurança e aí depois mais para frente só foi colocado dos anos 80, mas a obrigatoriedade do uso só a partir de 1998 em todas as vias. Então ainda é algo relativamente recente, ainda tem motoristas transitando hoje que se habilitaram ou que já dirigiam em uma época que não havia necessidade de uso, especialmente nas áreas urbanas. Então isso tudo tem um fator cultural histórico que influencia, mas a geração mais nova que está vindo é o principal destinatário dessas medidas novas para ter conscientização e para isso ser algo natural. Para algumas pessoas é natural colocar o cinto de segurança, não é problema nenhum. Para algumas pessoas o uso do cinto de segurança ‘me deixa amarrado’ ou ‘me sinto preso’. Não se sente não. Isso é ilusão. Os cintos de hoje não te deixam presos. Talvez os mais antigos, de muitos anos, fossem desconfortáveis. Os de hoje você nem sente que está usando. Então realmente é um aspecto cultural e aí essas várias frentes precisam trabalhar juntas para mudar esse panorama”, diz Cadore. 

    Em relação ao assunto, Fábio acredita que exista um enfrentamento ao problema que provém de diferentes intermediários como um conjunto de ações que precisam ser iniciadas, reforçadas e mantidas por órgãos internos do país e também por órgãos externos, como a Organização das Nações Unidas (ONU), com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que prevê uma redução de 50% no índices de mortes e feridos em todo o mundo, por exemplo. 

    “Nós temos diversos públicos com pessoas dos mais diferentes tipos de conhecimentos, pessoas, como um país culturalmente muito diverso com índices socioeconômicos muito diversos. Então você tem um verdadeiro desafio para isso. Mas esse desafio não é impossível. Quando a gente observa que o Código de Trânsito Brasileiro que nós temos em vigor desde 1998, o comportamento das pessoas mudou abruptamente. Nós nem falamos de cinto de segurança nessa época, para se dizer, como uma coisa que salvava vidas, um conhecimento tão disseminado, como nós temos hoje, mais de 20 anos depois. Então, nesse sentido, existe a possibilidade de nós construirmos a cultura de segurança. Eu diria que um pouco importante é a gente buscar construir a cultura de segurança porque aí a cultura de segurança e a ideia de sistema seguro pode ser um caminho para isso, porque aí a cultura de segurança, o país e as pessoas adotando isso, essa cultura ela irradia para esses diferentes níveis/fases do desenvolvimento, seja para criança, na educação das crianças, sejam os adultos, para os adultos identificarem o que que é esperado, qual que é o padrão do comportamento daquele país e então eu diria a adoção de uma cultura. E essa adoção de cultura leva tempo, ela precisa ser iniciada, reforçada e mantida. Então existe todo um conjunto de atores e ações que vão promover essa cultura de segurança e aí as políticas públicas que inclui a educação, fiscalização, infraestrutura, os parceiros que fazem parte do sistema de transporte público, empresas de transporte de carga, então todo mundo precisaria aderir a isso. Não existe uma ação que vai salvar a pátria, que vai resolver os problemas. É um conjunto de ações. Porque então a tendência nossa quer dizer que tem que aumentar a fiscalização e aumentar a parte mais sensível que é o bolso e tem que ser muitas altas e tal. Essa é uma forma de pensar não sistêmica. Ela é reflexo também de uma cultura de segurança de outros espaços, da segurança pública em geral. Então as medidas fiscalizatórias punitivas, elas, óbvio, devem existir porque são muito importantes, mas elas devem também ser adotadas por um conjunto de medidas e um conjunto de ações que envolvem os participantes do trânsito. Dentro de uma política pública orientada para a produção pela cultura de segurança. Então em suma, o que eu quero dizer o seguinte. Para a gente resolveu o problema do cinto, ele é um problema complexo, que requer uma ação sistemática em diversas esferas: individuais, das organizações, das políticas públicas e inclusive pressões internacionais, como é o caso dele quando o Brasil é signatário de ações internacionais como os objetivos de desenvolvimento sustentável da organização da Organização das Nações Unidas (ONU). Então a perspectiva é reduzir o número de mortes em 50% até 2030. [...] Então é um dos mecanismos para cultura e segurança”, adiciona Fábio.

    Algumas destas condutas podem ser explicadas pelo excesso de confiança ou pela sensação de controle. “Com certeza. Porque aí você tem aquela impressão de que não vai acontecer”, acrescenta Cadore na discussão. Na entrevista, Eduardo também cita que o excesso de confiança e a sensação de controle foram explicadas pelo sociólogo Roberto da Matta, no livro Fé em Deus e pé na tábua. Com base em pesquisas, o escritor comenta que este aspecto da autoconfiança está ligado com a crença de que somos bons demais, que o problema é sempre o outro, que se o trânsito é ruim é por culpa do outro indivíduo, terceirizando a culpa como um mecanismo psicológico para não ver a necessidade de mudar o nosso comportamento na condução. 
    Nesse mesmo ponto, perguntamos qual seria então a abordagem psicológica ideal ou eficaz que incentivaria os condutores a usar o cinto de segurança. Para Eduardo, o “[...] comportamento humano que ele já tá estruturando, já é hábito, já está introjetado no cidadão, é muitas vezes o processo de sensibilização de modificação passa por um pegar muito pelo lado da empatia”, ou seja, demonstrar em campanhas algumas situações que podem ocorrer em caso de acidente em que não foi utilizado o cinto de segurança, mas sem expor situações “gritantes”. Para ele, a violência não é medida para sensibilizar, mas especialmente faz com que as pessoas possam ser incentivadas a uma efetiva mudança de comportamento. 

Foto: Banco de Imagens Pixabay / reprodução

    Dando continuidade à entrevista, chegamos em um ponto crítico que são os eventos traumáticos. No nosso entendimento, um evento como um acidente pode causar algum impacto psicológico em condutores e passageiros que não tomam as medidas de segurança exigidas em lei, como o uso do cinto de segurança, por exemplo. Perguntamos a Eduardo e Fábio se esses eventos também seriam motivos para maior cautela com a própria segurança, e se os indivíduos só seriam capazes de dar importância ao uso de cinto de segurança após eles próprios terem sofrido um acidente ou algum conhecido seu.

    “Como em qualquer evento traumatizante assim, que tem o trauma, a batida, o nosso corpo não está preparado para o impacto. Então quando isso acontece, nosso cérebro ele marca isso um grau até nível do trauma psicológico mesmo ao ponto de até as pessoas não conseguirem mais dirigir depois, inclusive existe esta área da psicologia que trata das pessoas que têm medo de dirigir, fobia à direção e muitas das vezes é porque teve um fator de um estresse pós-dramático ali. Mas tirando esse aspecto, a pessoa que conseguiu contornar isso, ela pode significar o comportamento sim e é uma tendência de isso acontecer. E isso vai muito pelo perfil, porque tem perfis imprudentes, pessoas que realmente vão passar por um evento como esse e vão buscar alguma racionalização para justificar por que que aconteceu e não modifica o comportamento, continua praticando da mesma forma porque ela não percebeu, não identificou, não ressignificou aquilo como sendo algo que foi uma falha dela ou que se ela tivesse usado o cinto não teria acontecido naquela gravidade. Então tem isso, mas é notório que realmente um impacto como esse ele tende a produzir uma mudança comportamental ou de perder alguém próximo que passou por aquilo ali, mas também não é uma pílula milagrosa. Precisa muito do contexto. Se a pessoa vive em um contexto em que bater o carro, cair de moto e tudo mais é normal, é dito como acontece toda hora, a pessoa tá contando que passou por isso, ela banaliza e depois quando acontece com ela, ela fala que era hora ou era assim mesmo. Mas quando é algo que ela consegue ressignificar como algo fora da curva, algo anormal que aconteceu, algo que tá causando prejuízo, ela tem essa oportunidade de ressignificar o comportamento, mas vai passar muito pela educação, pelo como aquela sociedade também vê aquele comportamento. Então tem comportamentos que são ditos aceitáveis e outros que são considerados comportamentos inaceitáveis. Quando há um comportamento que levou o sinistro e ele era inaceitável, sei lá, racha, corrida ou embriagado, tu tens a sociedade também olhando para isso com olhos incriminadores, olhos mais acusadores e isso pode fazer reforçar que a pessoa não repita. Agora tem outros comportamentos que a sociedade acha que é por acaso, então são outras condutas ali que talvez sejam mais brandas. Então tudo vai depender também do que levou, como que foi experienciado esse sinistro e, no caso do cinto de segurança, a pessoa percebeu que ‘se eu tivesse usando o cinto, eu teria tido menos lesões’, isso se a pessoa sobreviveu para contar isso. Então com certeza pode ser um mecanismo de mudança comportamental, mas precisa também de outros estímulos”, diz Eduardo Cadore.

    Fábio adiciona dizendo que

    “A experiência de muita gente de quase ter morrido, nesses casos, a pessoa experimentou toda a dor do processo, de uma colisão grave, não raro as pessoas são projetadas para fora do veículo e ficam entre a vida e a morte ou então nesse acidente o condutor morreu e a pessoa que estava sentado atrás, com a velocidade, imprensou aquele condutor, porque a força é muito grande. Enfim, são situações muito diversas que não raro modificam a forma, de uma maneira dolorosa, de o indivíduo pensar as suas crenças, modificar-se e posteriormente seu comportamento [muda] por conta de uma situação bastante desafiadora pela qual a pessoa passou. Então o que a gente tem que ter em perspectiva é que aí, no caso, essas pessoas, ao refletir sobre o seu comportamento de ‘poxa, era só fazer um clique, se eu tivesse ido de cinto’, isso então quando a pessoa salva né. Muito triste é quando a gente vê que a pessoa perdeu a vida porque estava sem o cinto. Então a gente tem que se esforçar enquanto sociedade, enquanto participantes do trânsito, os profissionais, os governos, as políticas públicas, as empresas, para que as pessoas não mudem seu comportamento apenas quando enfrentar uma situação extrema. Nós precisamos ser mais proativos, a visão do sistema segura é uma visão proativa, ou seja, você antecipa os problemas e busca já encampar soluções para possíveis problemas porque o erro humano ele, em algum momento, vai acontecer. Isso já é dado no sistema. O erro humano vai acontecer e o ser humano é frágil. Então em algum momento esse erro poderá resultar em morte ou lesão grave. Então nesse sentido, na abordagem do sistema seguro, a gente é proativo. Pensa antes de acontecer, as mudanças são feitas antes de acontecer. Que em geral, a nossa abordagem, é que morreu alguém, aí agora nós vamos mudar a via. Ela vem em consequência de uma coisa, então quando há um problema, a sociedade aí então adota aquela causa e aí muda. Então a gente precisa desenvolver essa noção de antecipação. Se a curva é de 90 graus, quais são os mecanismos para que se o condutor errar, a via [consiga] perdoar aquele erro no sentido de morte e lesão grave. No caso do cinto de segurança, como é que nós podemos agir antecipadamente, para que o sujeito não venha ter uma ocorrência tão grave dessa e, por vias dolorosas, mudar o seu comportamento? E depois de tanto sofrimento individual, familiar de gasto público, de internação com aquele sujeito e às vezes ele se tornou uma pessoa com deficiência em função daquela ocorrência”, complementa de Cristo. 

    Em síntese, Fábio adiciona que existem dois grupos psicológicos sobre o uso do cinto de segurança. O primeiro deles é o que ele chama de consciente; já o segundo grupo, ele classifica dentro de automatismos, algo que também foi usado para explicar o uso do cinto de segurança no banco traseiro, como citado no início deste tópico.

    “O fato de não usar o cinto de segurança ou de também usá-lo, a gente poderia organizar em duas grandes categorias. A primeira da perspectiva que vai do nível do consciente, ou seja, das suas atitudes, do querer utilizar, então as pessoas, se elas estão ou não motivadas a usar e se elas querem ou não usar. Então está no nível do querer, está no nível do conhecimento e da compreensão. Olha eu eu sei como usar, eu sei porque é importante e eu acredito que isso salva vidas, então razão pela qual eu vou usar. Esse é o primeiro grupo de explicações. O segundo grupo de explicações vai para os automatismos. Os automatismos são aquilo que a gente, em termos comportamentais, faz sem pensar tanto, com pouca ou nenhuma deliberação. Você simplesmente faz. Então, por exemplo, o fato de usar cinto é ou não um hábito. Então o hábito é quando ele se torna habitual, o comportamento de usar o cinto, se você pergunta para a pessoa se ela está de cinto, provavelmente ela terá que olhar. Porque ela sempre entrou no carro e fez assim [puxou o cinto e afivelou] aí então a pessoa pergunta. ‘Você está de cinto?’ E aí ela vai ter que olhar, porque é um automatismo que foi construído por um conjunto de passos que a gente também chama de script, um roteiro. Esse roteirinho, repetido sucessivas vezes, pode levar ao hábito, a esse automatismo que você não precisa pensar tanto. E a vantagem do hábito, nesse caso dos hábitos seguros ou saudáveis, é que eles, uma vez instalados, são difíceis de romper”, destaca Fábio de Cristo.

    Nota-se que o comportamento humano pode ser moldado se for incentivado, seja ele pela própria educação familiar ou escolar, pela formação de condutores, pela exigência de uma lei ou por um desejo altruísta de cada pessoa. Tudo para não se arrepender de um simples movimento de afivelamento do cinto. Aliás, você sabe o que o seu não uso acarreta? Bom, isso é um assunto para o próximo tópico, na parte três (e última) desta reportagem especial. Até lá!


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