Retrômobilismo#96: Forte como um trator, CBT Javali era a prova de resistência em corpo de jipe!
Garanto que muitos não conhecem a brasileira CBT (Companhia Brasileira de Tratores) e muito menos conheceram o jipe da marca, o Javali. Com sede em São Carlos (SP), a CBT se arriscava pela primeira vez com o jipe, sendo o seu primeiro automóvel da marca que tinha fabricado apenas tratores até 1989. Mas antes de seu lançamento, a CBT começou os testes no Javali em 1985. Simples e robusto, o Javali era versátil, onde a CBT tinha como meta oferecer o Javali a um preço competitivo e um bom carro para o trabalho. Os cálculos da CBT colocavam o Javali como um dos carros mais em conta do país, com preço similares ao do Chevrolet Chevette, o mais barato naquele ano. A CBT lançava o Javali de olho na expansão desse segmento e desde o fim de linha do Ford-Willys Jeep em 1983, muitos consumidores estavam órfãos e tinham apenas Toyota Bandeirante e Engesa 4 como opções. A marca também queria atender os consumidores de seus tratores, como forma de engatar a venda de um trator e um Javali, que estavam na mesma concessionária.
Na carroceria, quase todas soluções mecânicas estavam baseadas na do Willys Jeep. O chassi, o sistema de suspensão com eixos rígidos e molas semi-elípticas e a transmissão são idênticos aos do Willys. A suspensão traseira é do tipo progressiva, com algumas lâminas do feixe funcionando só quando o carro está carregado. No chassi da carroceria estavam três câmbios. O do câmbio, o principal, o da tração e o da reduzida. No painel, o Javali trazia apenas o necessário para um jipe: velocímetro, conta-giros, medidor de combustível, temperatura da água e do motor, voltímetro, pressão do óleo e do turbo, quando equipado com motor turbinado. O motor era um 3.0 de três cilindros com turbo diesel, que desenvolvia 85cv de potência e torque de 25,5kgfm de força, com câmbio manual de 4 marchas. Além do motor de 3 cilindros, o de 4 cilindros também foi vendido, este com 72cv. A vantagem do motor CBT no fora de estrada era o alto torque em baixas rotações, apresentando 17kgfm a 1.500rpm na versão de três cilindros e 24,4kgf.m a 2.600rpm na versão 4 cilindros.
Como pesava cerca de 1.650kg, para acelerar de 0 a 100km/h foi preciso quase um minuto: 53,2 segundos, segundo a revista Quatro Rodas. Também pudera, com velocidade máxima de 120km/h, o Javali não tinha sido criado para performance. O consumo era um ponto positivo: 10,7km/l na cidade e 11,7km/l na estrada. De porte compacto, o CBT Javali media 3,49 metros de comprimento, 2,10m de entre-eixos, 1,80m de largura, 1,84m de altura com tanque de 60 litros e volume de carga de 750kg. O Javali tinha espaço para 4 adultos com certa folga. Segundo a CBT, no lançamento do Javali naquela época, o ângulo de entrada e de saída, algo importante em um utilitário que deve encarar diversas condições de terreno, tinha respectivamente 50º e 42º. A inclinação lateral era de 30% e poderia passar por trechos alagados de 55 centímetros. Com características técnicas tão similares as do Jeep Willys, que foi um sucesso garantido de vendas, o Javali tinha tudo para ser um sucesso.
Mas a realidade se mostrou diferente. O Javali foi comercializado oficialmente até meados de 1992 com o motor de três cilindros e até 1994, na versão 4 cilindros, apenas para atender pedidos especiais e para o uso interno da CBT. Há quem diga que o grande erro da CBT foi fabricar todas as peças do Javali, até os parafusos, trazendo para si altos custos com maquinário, treinamento etc. Assim, a marca deixou de produzir o jipe em 1994, com poucas unidades fabricadas. Não se sabe um número exato de quantas unidades produzidas, mas o erro da CBT foi querer fabricar quase todas as peças do jipe, sendo que a marca ainda não tinha muito recursos por atuar apenas no Brasil, tanto que a CBT encerrou as atividades em 1995, depois de falir. A empresa foi à falência em 1995, também por meio ao processo de "abertura econômica" iniciado pelo governo Collor e concluído no governo FHC, que extinguiu todos os mecanismos de proteção à indústria automobilística nacional, que acabou sendo desnacionalizada.
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