Retrômobilismo#91: O voo que daria a Gurgel a guinada necessária para o mercado e a facada nas costas fizeram o BR800 ter vida breve!
No dia 07 de Setembro de 1987 começa o sonho de termos o primeiro automóvel 100% nacional com João Amaral Gurgel, ou melhor dizendo, o Sr.Gurgel. A expectativa sobre o próximo veículo da marca era grande por se tratar do primeiro popular da Gurgel, que poderia fazer a marca dar a tão esperada guinada no mercado. O projeto estava com Amaral desde sua faculdade, mas só começou a projetá-lo quando a Gurgel já tinha dinheiro suficiente para produzi-lo depois de uma condição financeira mais estabilizada. O sucesso de seus utilitários nacional e internacionalmente levou Amaral a idealizar um veículo compacto 100% brasileiro. Assim nascia o BR800, lançado no mercado em 1988, como um "city-car" como podemos dizer atualmente. No lançamento, João Gurgel teve uma iniciativa até então inédita no Brasil: abriu o capital da empresa. Assim, cada interessado em adquirir um BR800 deveria comprar um lote de 750 ações da Gurgel, no valor de US$3.000 pelo carro e 1.500 dólares pelas ações, tendo prioridade na aquisição do automóvel junto com sorteios mensais. Todos os lotes foram vendidos rapidamente, mostrando a confiança na Gurgel. No fim das contas, a Gurgel arrecadou US$60 milhões de dólares, viabilizando a conclusão do projeto e a ampliação da fábrica de Rio Claro.
No Salão do Automóvel de São Paulo de 1988, o BR800 fazia sua estreia, onde oferecia uma proposta simpática, simples e econômica. O BR800 inaugurou a era do "carro popular", com benefício de IPI, pagando apenas 5%, enquanto as demais pagavam 37%. O motor do BR800 é um caso a parte. Projeto único no mundo, era fundido em liga de alumínio-silício, foi batizado como Enertron, com uma ignição controlada por um microprocessador que eliminava a necessidade de distribuidor, pois o disparo era simultâneo nos dois cilindros. Com 800 cilindradas, rendia 34cv de potencia e podia ser levado a praticamente 6.000rpm sem flutuação de válvula. A velocidade máxima era de 117km/h. Mas o foco era na economia, onde o BR-800 obtinha uma média de 21km/l de gasolina na estrada, número muito expressivo. Para tanto, os engenheiros brasileiros trabalharam para extrair o melhor do propulsor, usando um câmbio manual de 4 marchas, tanque de 41 litros e reduzindo o peso do carro para apenas 650kg. A suspensão dianteira também era projeto da Gurgel, chamado de "spring shock" tinha mola capsulada dentro de um cilindro blindado cheio de fluído viscoso.
Assim, os dois componentes eram reunidos em um só, enquanto a traseira usava feixes de mola. O design da carroceria também era bem ao padrão da época, com estilo moderno ao trazer linhas retilíneas e capô inclinado. O BR800 teve grande aceitação por parte do público jovem, que tinha o city-car como um carro diferente dos demais, além de ser econômico em um momento conturbado do Brasil. O design do interior não escondia a simplicidade, com um painel que trazia apenas o necessário. Os bancos eram confortáveis e forneciam uma boa posição de dirigir, enquanto a alavanca do câmbio tinha engates precisos, ou seja, apenas de simples, era bem funcional e prático. Podendo transportar 4 passageiros, um dos poucos defeitos do BR era os vidros corrediços, que limitava a entrada de ar na cabine e o pequeno porta-malas, que se abria com o vidro traseiro basculante, que não tinha um acesso dos mais cômodos. Por outro lado, o estepe tinha acesso muito pratico por fora, em uma tampa traseira.
Em 1990, quando parecia que a Gurgel estava se estabelecendo nesse segmento, o governo federal isentava todos os carros com cilindrada menor que 1000cm³ do IPI, que ficou conhecido como um ato de traição a Gurgel e com o BR800. Quase que instantaneamente, a Fiat lançava o Uno Mille, que tinha o mesmo preço do BR800 e oferecia maior potência e espaço. Menor carro produzido no Brasil com 3,19 metros e entre-eixos de 1,90m, o BR800 acabou saindo de linha em 1991 depois de 3 anos de produção e pouco mais de 3.000 unidades produzidas, segundo fontes. O BR800, que teve vida curta, seria substituído pelo Supermini, que seria uma evolução do BR800, mas essa história será contada futuramente.
Agradecimentos: Fábio Evangelista e André Fontes Seixas
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